segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Entrevista com o CVOD

A banda CVOD (Cabeça Vazia Oficina do Diabo) está na ativa há 11 anos e é um dos ícones do hardcore do interior paulista, o famoso velho-oeste. Além de manter a Produções Peçonhentas, que realiza o “Hardcore na Cidade”, estão à frente do selo Caipira Bruto, que lançou este ano seu primeiro álbum, Não Espere Nada Em Troca.

Para os quatro integrantes o hardcore é muito mais que música, é o motor principal da cultura rock de sua cidade natal, Assis. Juntos desde 1996, eles levam o CVOD e seu hardcore old school a todos os cantos possíveis, mantém a Produções Peçonhentas, que realiza o “Hardcore na Cidade” e estão à frente do selo Caipira Bruto, que lançou este ano seu primeiro álbum, Não Espere Nada Em Troca. Conversei com o baterista, Lucas - veja como o HC pode movimentar as pessoas, uma cena, uma cidade.

Como foi montar uma banda de hardcore em uma pequena cidade do interior?

O CVOD em princípio foi uma banda de rapcore, com três vocais, duas guitarras, baixo e batera. Eu entrei ainda na fase rapcore, em 98, quem montou a banda foram o Fernando e o Elcinho, que é um batera que já tinha uma banda antes, de som pesado. Na verdade, CVOD foi á primeira banda com influências de hardcore a tocar e gravar demo na cidade. Até hoje tocamos aqui porque nós mesmos organizamos eventos por aqui. Claro que hoje em dia existe uma cena, uma molecada que ouve som, vai em shows, conhece as bandas e tal.


Vocês organizam o Hardcore na Cidade que em dezembro completou a sua décima edição. Como é manter a Produções Peçonhentas em uma cidade que está mais perto do Paraná do que da capital São Paulo? Desde o início houve resposta do público?

O evento Hardcore Na Cidade surgiu depois de uma série de eventos de hardcore que fizemos aqui em Assis. Quatro anos atrás, quando surgiu o HC na cidade, já rolava uma molecada mais antenada, e também já rolava um intercâmbio entre as cidades vizinhas, pois o CVOD jÁ estava na estrada há algum tempo e construímos de certa forma essas ligações. A idéia do evento é incluir Assis na rota de bandas de rock independente e a cena do oeste paulista e do norte do PR (que está perto daqui) é muito legal e unida. Acho que a cena daqui tem algumas diferenças com relação à cena de cidades maiores. Aqui a molecada aceita bem o "novo", estão abertos a conhecer, curtem demais os shows de bandas que nunca viram, compram os CDs das bandas no dia do evento, e agradecem pelo show. É bem legal!


Pelo que vocês diz parece que a cidade ainda é carente de hardcore. Você acredita que o CVOD ajuda a matar essa necessidade dos jovens por rock e mantém o lema de vocês mais forte do que nunca: "hardcore vivo"?

Acho que Assis, por ser uma cidade pequena, não tem a mesma quantidade de informação (quantidade de shows, bandas locais, materiais) que cidades maiores têm. Acho que o papel do CVOD, além de tocar, fazer músicas, é fazer o corre para que Assis (minha cidade) e Marília (cidade dos outros integrantes) tenham acesso a todo esse movimento que é a cena hardcore. Apesar de não haver uma grande quantidade de eventos sempre procuramos trazer bandas que estão despontando na cena do Brasil, junto com bandas da região (oeste paulista e PR), acho que dessa forma o hardcore se mantém muito verdadeiro.


Pelo seu show em Assis pude observar que a música do CVOD é idolatrada na região. Vieram vans fretadas de várias cidades e até do Paraná. O lançamento do CD Não Espere Nada em Troca foi uma realização não só pra banda, mas com certeza para o público. Vocês exercem um papel importante para o pessoal do velho-oeste. Como foi preparar o CD sabendo desta responsabilidade?

Levamos o CVOD com responsabilidade com relação ao que é o hardcore aqui na região. Temos consciência que fazemos parte da construção de tudo isso que rola hoje em dia por aqui e que temos o respeito do pessoal da região. Muitos acompanham a trajetória do CVOD faz tempo e são muito amigos. A construção do disco foi uma conseqüência de todo esse trabalho: muito ensaio e suor. Temos esse disco como uma conquista não só pessoal, mas como uma forma de fortalecer a cena daqui, do oeste paulista. Acho que pelo tempo que estamos levando o CVOD junto com toda a correria que fazemos para movimentar a cena por aqui (shows), o disco só tende a fortalecer a cena hardcore local como uma referência para bandas se apresentarem, além de haver um puta pessoal legal e super dispostos a fazer o rock nas cidades vizinhas.


Mesmo com a importância que a banda tem para a região e, por que não, para o estado de São Paulo, o disco saiu de forma independente pelo selo da banda, Caipira Bruto. Não houve selos abraçando a idéia de lançar o CVOD?

Acho que apesar do CVOD ter muito tempo e de fazer um trampo sério, existe um receio de selos abraçarem bandas não muito conhecidas. Tivemos contato com alguns selos que se interessaram, mas achamos viável nós mesmos lançarmos. Acho que com o próximo disco teremos mais facilidade para lançar por algum selo. Esse primeiro disco tem aberto muitas possibilidades pra gente.


O CVOD este ano ampliou horizontes e estreitou laços com alguns selos devido a suas apresentações com diversas bandas do país e com The Miracles, da Itália. Já pensam em um novo disco? O que há de novidades vindo por aí?

Sim, fizemos três shows com os italianos e com o Fatal Blow, banda de Balneário Camboriú (SC), dos irmão Thiago e André, da No Mercy Records. Os caras já tinham despertado interesse pela banda antes, acho que esse rolê com eles serviu para nos conhecermos melhor, para ele conhecerem a banda ao vivo. Acho que foi uma experiência muito legal e proveitosa demais e a No Mercy com certeza é uma possibilidade para o lançamento do próximo disco. Em 2008 pretendemos fazer músicas e muitos shows.


Falando em shows, vocês começam 2008 tocando no 16º festival hardcore de São Paulo, o maior do estilo no país, organizado pelo núcleo Verdurada. O show de vocês tem uma pegada absurda. Vocês passam muito amor, expressão, vontade, dedicação quando estão no palco. Tudo isso pelo hardcore?

Cara, unica e exclusivamente. Você presenciou o que é o hardcore na nossa realidade quando veio a Assis com o Ataque Periférico. Estamos há 11 anos na estrada pelo que o hardcore pode proporcionar pra nós, as pessoas que conhecemos e a maneira que conduzimos nossas vidas tem tudo a ver com o hardcore, ele faz parte de nós.


Lucas, obrigado pela entrevista. Deixe o seu recado final.

Primeiro, gostaria de agradecer pelo espaço, a todos que têm nos ajudado no decorrer desses anos, comparecendo a shows, comprando nossos discos e ajudando a divulgar o CVOD. Para quem estiver interessado em conhecer o trampo da banda, temos o Fotolog www.fotolog.com/cvodhardcore , o Myspace www.myspace.com/cvodhardcore e temos também uma comunidade no Orkut, com algumas informações. Valeu, Athos! HARDCORE VIVO!




* Entrevista publicada no site Rock Press, clique aqui e leia.

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