Estava um frio muito absurdo. Saí de Bangu com 40 graus e
aqui faz cinco, fora a sensação térmica. Hoje estava particularmente pior que
estava ventando muito. Minha roupa de guerra foi: segunda pele (camisa e
calça), calça jeans, blusa, moleton, casaco, touca, luva, cachecol e o gorro do
casaco. Mesmo assim teve algumas horas em que bati queixos. Mas isso não é
importante. Vamos voltar para a visita.
Nesse museu, além das maquetes, estão guardadas coisas muito
importantes para os religiosos, em especial os cristões. Lá há pedaços
originais de textos da bíblia. Nosso guia nos contou a história, de que no
século passado, algumas escavações foram feitas e descobriram, senão me engano,
sete textos completos enterrados dentro de jarros. Israel ficou com três e o
Vaticano com o restante. Isso depois de algumas negociações.
O que se sabe é que nada se sabe desses textos que foram
para a Igreja. O vaticano trancou os escritos nos seus cofres e nunca mais
falou sobre isso. Israel deixou exposto nesse museu. Lá há um esquema de
segurança muitíssimo interessante. Os textos ficavam em uma cápsula que em
qualquer ameaça de ataca ela se trancaria e tudo ficaria preservado. Contudo,
Israel também escondeu seus textos depois de ano. Vaticano sofreu um ataque de pessoas que
queriam roubar os escritos, por segurança, Israel preferiu preservar os textos.
Porém, eles fizeram réplicas que estão expostas no mesmo lugar.
Depois dalí fizemos uma visita a uma montanha. Bom, para mim
em especial foi magnífico. Fomos até um ponto de observação militar, onde há
tanques e jipes abandonados. Subimos na guarita e Mestre Kobi (Israelense e que
é nosso mestre de Krav Maga) nos explicou um pouco do conflito
árabe-israelense. Em seguida ele nos apontou um muro. Esse muro é que separa
Israel da Palestina, na parte da Cisjordânia. Bom, todo mundo sabe que sou
louco por conflitos, sempre que posso me meto em um, mas estar nesse lugar,
onde as coisas acontecem de fato, foi emocionante. Um dia volto a trabalho,
quem sabe.
A hora avançava e fomos almoçar em uma aldeia árabe dentro
de Jerusalém. No início foi uma decepção. O quibe era de espinafre, sei lá, era
vegetariano. Mas depois veio uma Kafta e um franguinho, sensacionais.
Seguindo a lista de passeios do dia, fomos para um lugar
triste saber mais sobre um acontecimento que jamais pode ser esquecido, o museu
do Holocausto. Todos falaram que é um local triste e que dá um nó na garganta. A
princípio nada abalou as minhas estruturas. Muitas fotos de judeus, nazistas,
propagandas a favor de Hitler e contras os “ratos”, uniformes usados nos campos
de morte (aqui eles não chamam campo de concentração). O museu é repleto de
informações. No lado de fora um pouco distante do museu, tem um vagão de trem original
que levava os judeus para os campos. Eles fazem questão de preservar isso.
O final da visita sim é um soco o estômago. Há uma sala com
um buraco enorme no meio. Nessa sala há diversas pastas com informações que
eles conseguiram sobre os mortos, como locais e datas de nascimento, nome e data
de falecimento. Nessas pastas também há diversos livros, partituras,
documentos, enfim, tudo relacionado aos judeus, para que aquelas pessoas não
sejam esquecidas. E o imenso buraco no meio representa as pessoas que foram
executadas e que não foram identificadas. É para que alguma forma, elas também
não sejam esquecidas.
O mais triste desse passeio é o memorial das crianças. São
apenas espelhos, algumas luzes e meia dúzia de fotos. Mas é impossível não se
emocionar. O lugar é escuro, toca uma música triste ao fundo e vozes se revezam
lendo o nome das crianças, a cidade que nasceram e a idade que morreram. Só
para se ter uma ideia da quantidade de crianças mortas, para ler do primeiro ao
último nome, sem repetir ninguém, leva quatro meses. Foram 1,5 milhão de
crianças mortas.
Não é fácil ter acesso a esse tipo de informação e ficar
indiferente. É por essas e outras que o trabalho do correspondente de guerra é
importante. Não é pela adrenalina, status, blá blá blá, pelo menos para mim. É
para que coisas ruins sejam noticiadas e elas não aconteçam mais. Para
denunciar e evitar coisas ruins. Enfim, é assunto para outra hora.
Depois de uma visita pesada, mas indispensável de ser feita,
fomos para um programa mais light. Uma breve descrição da história de Jerusalém
no cinema. Uma empresa fez um cinema adaptada, com cadeiras que vibram, descem
e sobem, que fazem esses movimentos de acordo com um filme de 30 minutos que é
passado, contando tudo da cidade desde Abraão até a década de 60. O melhor é
que isso fica na Casa do Jornalista de Israel.
Já era noite, muito frio, absurdamente frio, mas anda tínhamos
mais um passeio, os túneis de Jerusalém Antigo. Na verdade esses túneis são
nada mais nada menos que a Jerusalém de verdade, da época de Jesus.
Os israelenses estão escavando o lugar, por isso os túneis.
Bom, o que aconteceu é que depois da destruição do Segundo Templo tudo foi
soterrado. E na época das cruzadas, tanto cristãos como muçulmanos
reconstruíram a cidade em cima das ruínas. Nesses locais onde hoje estão os
túneis era onde existia a cidade. E é incrível como muita coisa está
preservada. O caminho vai até uma espécie de banheira onde Jesus curou o
paralítico. Isso está na Bíblia, procura lá.
Todo aquele passeio de ontem na via dolorosa, etc, etc, não
aconteceu ali de verdade. Segundo o nosso guia, foi onde aconteceu, mas metros
abaixo. Ok, vou acreditar porque me faz bem pensar que pisei no mesmo metro
quadrado do filho do patrão. E fizemos todo esse passeio beirando a parte
soterrada do Muro das Lamentações, que ainda está mais 18 metros para baixo.
Falando no Muro, hoje estive lá outra vez e agora com mais
calma. Hoje, por não ser sábado, era permitido tirar fotos. Refiz meus pedidos
e observei melhor o local. Alí é fé pura. Nada mais do que isso. Homens para um
lado, mulheres para o outro e no meio disso tudo a fé explodindo. É um lugar
bonito de se ver.
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